sexta-feira, 5 de junho de 2020
A máquina de escrever.
Minha grande paixão pela escrita começou quando eu era criança.
Antes mesmo de eu aprender a escrever, pegava alguns cadernos e "escrevia" minhas histórias (ainda que ninguém pudesse ler, me achava a própria Agatha Crhistie).
Uma vez, peguei um caderno de desenho e inventei uma "história em quadrinhos", outra, fiz um pequeno livro com folhas de sulfite e rabisquei histórias de terror. Todas as minhas histórias eram fanaticamente acompanhadas por meus fiéis leitores (minhas bonecas, meus cachorros e minha mãe que - coitada - era obrigada a ler cada linha e ainda elogiar) afinal, um escritor não é nada sem alguém que conheça suas ideias.
Foi então que um dia, eu a encontrei! Uma máquina de escrever!
Ah, aquilo era lindo. Comecei a dedilhar em suas teclas duras e, na minha pequena força de criança, as letras quase não apareciam no papel, com a tinta clara, desbotada, e parcialmente apagadas, mas eram minhas palavras.
Nos filmes, os escritores a usavam. Nas séries, os repórteres a usavam e eu me sentia como se fosse um deles. Como se adentrasse em uma sociedade secreta, eu escrevia.
Foi então que minha mãe resolveu me dar umas aulas de datilografia. Pronto! Enfiei uma máquina fotográfica na bolsa, um bloquinho e lápis e passei a me sentir uma repórter investigativa. Mas logo notei que eu não era uma.
Então continuei com os "livros".
Neste ponto devo salientar que, olhando para trás, tenho dó da minha mãe. Mas ela era professora e sabia como instigar o amor pelas palavras em uma criança e eu cresci.
Cresci lendo, cresci escrevendo, cresci desenvolvendo ideias, fantasias, mundos e personagens próprias.
Viajei para diversos países em diversas épocas diferentes nas páginas dos bem fadados livros que lia e voltei para casa todas as vezes que fechei suas capas. Vivi diversas vidas, conforme as personagens que eram apresentadas a mim e ao mundo por páginas e páginas escritas. Amei diversas vezes, chorei algumas outras, mas nunca deixei de me apaixonar pelas letras, pelos livros, pelos contextos.
Quanto a mim? Bem, nunca escrevi realmente (nada além do que alguns artigos jurídicos).
Quanto a máquina de escrever? Ela foi esquecida em um canto da casa, hodiernamente cheia de teias de aranha e poeira - lugar dedicado para todos os que se tornaram obsoletos.
Posso dizer, talvez, que meu sonho de menina (escrita) ficou lá, junto com aquela máquina, encostada em um canto bolorento e poeirento da casa, esquecida em meus pensamentos de adulta, mas um dia....
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