Quando penso em sentimentos, reais sentimentos que se aprisionam dentro de nós, desses que tem medo ou vergonha mesmo de se revelarem ao mundo, penso em uma imagem cinza e vazia...um verdadeiro cárcere de solidão, afinal, muitas vezes não revelamos nossos sentimentos nem a nós mesmos.
Para fundamentar minha tese, tenho ao meu lado a inexorável confusão de sentimentos. Quem nunca se sentiu confuso? Quem nunca teve raiva de algo que não conseguia sequer descobrir? Quem nunca se pegou confuso entre os ambiguos sentimentos do amor e da amizade (em especial, no meu caso, ao menos, entre um homem e uma mulher)?
O fato é que vivemos uma época de negação sentimental, de uma força socialmente construída, ao custo de sublimar a necessidade que todos temos de aceitar nossas falhas e fraquezas...mas invés, sentimos cada vez mais a necessidade da perfeição, da autonomia sem limites e toda essa negação do ser, do ego, cria pessoas cada vez mais solitárias em meio ao Caos social que a realidade nos impõe.
Cada vez mais temos mais amigos (um exemplo disso é o aumento das redes sociais), cada vez saímos mais (barzinhos, baladas, cinemas, teatros, uma diversão para cada gosto), cada vez nos socializamos mais, não exatamente pela proximidade de personalidades. Pela necessidade de preencher uma lacuna em nós, sentimos o dever quase cego de estarmos cercados de pessoas a todos os momentos..."pessoas que nos amem", porém não somos exatamente conhecidos...nem por nós mesmos.
Desta forma, relacionamentos amorosos se tornam cada vez mais instaveis, casais podem romper e se separar a qualquer instante e a insituição da família tornou-se mais uma vez uma confusão...confusão causada pelo próprio desconhecimento de si mesmo, pelas máscaras que usamos para encobrir nossas falhas, nossas fraquezas.
Mas em uma sociedade que nos impõe tantos medos (concorrência, às vezes até desleal, pouca ética, muita luta, muita cobrança, medo de ser deixado para trás, medo de ser obsoleto, desconfiança, cobiça, ambição e todos os desdobramentos causados por essas ações), como adiquirir força e coragem suficientes para expor suas fraquezas e seus defeitos? Ou melhor, como ao menos aceitá-los?
Fazem parte de nós, correto? Não podemos extinguir completamente nossos defeitos, podemos? Apenas se virarmos máquinas, creio...e ainda assim, estaríamos sujeitos a possíveis erros de fabricação.Então, como aceitar essa parte tão obscura e, porque não dizer, perigosa de nós mesmos?
Uma vez, em uma meditação, me foi possível fazer uma viagem pelo interior da minha mente....minhas gavetas de recordações, algumas cheias até a boca, outras quase vazias...altas prateleiras de memórias acumuladas em toda minha vida. Via alguns sujeitinhos estranhos e cinzas, como se fossem sombras correrem assustados pelo meio de tais prateleiras, como se me temessem. Quem quer que me acompanhasse (gosto de pensar que era meu inconsciente ou meu anjo da guarda), me disse que esses são meus medos. Olhei atentamente para eles e os achei engraçados...pequenos grundos de sombra, então disse que não me pareciam assim tão assustadores. Meu acompanhante então me disse que a partir do momento que você olha diretamente para eles, não são mesmo, perdem a mágica que os faz poderosos, por isso eu deveria buscar em meu passado minha redenção e em meu presente minha própria vida.
Assim acabou minha sessão de meditação, porém mais essa memória me acompanha até hoje. Quem sabe não acontece a mesma coisa com os sentimentos? Quanto menos olhamos para eles, quanto menos encaramos nossas falhas e fraquezas, mais somos assombrados por eles, afinal, como diria Nathaniel Brander: " Nós sabemos de nossas falhas, saibam os outros ou não". Será preciso harmonizar nosso lado negativo em nossas vidas, não com a intensão de modificá-lo, mas com o intuito de sermos plenos? Será possível ser pleno e assim, mais forte, mesmo que as demais pessoas te conheçam a fundo (digo, algumas pessoas, as importantes)? Será possível ser totalmente aceito? Ser aceito por completo? Será que vale a pena tentar?
Começo minha nova empreitada encarando meus sentimentos e os traduzindo em palavras para mim mesma. Talvez dessa forma, os defeitos tão terríveis que me enfraquecem sobremaneira transformem-se apenas em desajeitados grundos de sombra aos meus olhos e aos do mundo!
Sério!! Esse carinha engraçadinho e desajeitado te assusta afinal????
ResponderExcluirOlá Li! Passei por aqui e fiquei feliz em saber que vc tbm escreve. Maravilhoso salto para dentro de si mesma, esses são caminhos para o autoconhecimento! Grande beijo!!!!
ResponderExcluir