Diz a música: "eu desisto, não existe essa manhã que eu perseguia, um lugar que me dê trégua ou me sorria, uma gente que não viva só pra si".
Hoje estou oficialmente triste ao quadrado, porque, por mais que eu tenha lutado e nadado contra a corrente, agora eu desisti e não me orgulho disso.
Largar meu escritório e virar as costas para asala vazia de coisas enquanto levava tudo para o meu carro foi fichinha perto disso... será que tudo que eu pensei a meu respeito e de minha família foi errado até hoje? Provavelmente.
Eu gostaria de ser uma protetora. Eu gostaria de ter mais amor para dar, de ter mais paciência para oferecer ao mundo. Eu queria poder fazer o bem para os que não podem fazer nada (ou podem fazer muito pouco) por si: os animais.
Resgatar era meu sonho. Era quem eu achava que podia ser, era a minha parte "boa". Mas eu não consigo amar a ela como eu deveria, eu não consigo fazer com que o mundo a ame como ela merece e não consigo pensar nisso sem ter uma vontade enorme de chorar nesse exato momento.
Será que essa vontade de chorar vai passar algum dia? Será que me sentirei digna de mim mesma ou ao menos conseguirei alguém que vai segurá-la no colo, abraçá-la e beijá-la de verdade, com todo o amor que aqueles olhinhos azuis merecem? Minha redenção precisaria urgentemente que a resposta fosse "sim", mas eu não tenho mais certeza.
A verdade é dura e eu tenho que aceitá-la como ela é: o mundo é um lugar foda! O mundo não te dá uma trégua, uma pausa, não tem misericórdia com o seu coração despedaçado no chão...mas afinal, o mundo não pode ser mudado.
Creio sinceramente que tenha sido isso que Brigite Bardo descobriu em sua luta incansável (e inútil) por um mundo melhor para os animais: ela sozinha não podia fazer toda a diferença que ela queria e sinceramente? Talvez em algum lugar de sua jornada, ela tenha descoberto também que essa tarefa exigia muito mais energia do que ela tinha... muito mais amor do que ela era capaz de dar e muito mais trabalho do que ela podia oferecer mas, para admitir isso, ela teria que admitir a si mesma que isso era maior do que ela, que ela não podia prosseguir e, principalmente, que ela não era tão "boa" quanto ela pensava ser... isso é ter seu mundo virado do avesso do início ao fim....e a dor da perda é grande, pois se perde uma parte valiosa de si... se perde tudo que você acreditou ser sua base, seu chão...e se escala o nada, no meio das lágrimas que seu coração despedaçado te deixa provar...enquanto seu espelho moral se quebra a sua frente.
...e quem sou eu agora que sei que tudo que pensava ser não existe? Quem sou eu agora que sei que eu não sou o que imaginava ser? E agora que a imagem da princesa foi desvanecendo no espelho da vida?
Falando em vida... e a vida que depende de mim e de minha pouca força? Para onde se vai o futuro dessa pequena bebe peluda? Ela precisava que eu fosse forte, mas eu não sou e agora peço ajuda para um lar para ela....
Para onde vai a vida nesse planeta onde "ignorar" é a melhor forma de não se admitir uma responsabilidade que não se pode cumprir? E para onde vai todo aquele julgamento que se fazia das pessoas que ignoravam animais magros e maltratados nas ruas, já que, na maioria das vezes, essa é uma responsabilidade que não poderiam assumir? E por fim... bondade, maldade, vitória ou perda? O que faz de mim o que sou? O que resta do que sou afinal?